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terça-feira, 18 de junho de 2013

Não são só 20 centavos?


Mariana, 22 anos, paulistana. Acorda as 8 horas, toma seu café com pão ouvindo a tv em qualquer canal (afinal de manhã todos são iguais), se arrumar, joga umas mil coisas na bolsa  - o dinheiro, o bilhete único, a agenda, o celular, o guarda-chuva afinal nunca se sabe quando vai chover em São Paulo, a carteira e uma bala - liga o play do fone e tranca a porta. Anda mais ou menos quinze minutos pra chegar no ponto de ônibus mais perto da sua casa e espera cerca de vinte minutos até o ônibus passar. Por sorte da vida Mariana consegue um lugar vago para sentar, coisa que definitivamente não acontece todos os dias. O caminho agora demora mais ou menos uma hora, já que Mari vai atravessar a cidade que mesmo de manhã já está parada.
Chega na firma já cansada, exausta da quantidade de gente que se apertou no ônibus pra conseguir chegar no destino. Começa agora a jornada de 6 horas de trabalho da estagiaria de criação Mariana, "a magrela nova da firma" que nem saiu da faculdade ainda. Pra ganhar um salario de um pouco mais de 700 reais (dando graças a Deus por ser maior que um salário minimo).
Sai as 16h30, pega mais um ônibus até o metrô e usa sua integração do bilhete. Ao todo e só hoje Mari já gastou R$8,20 de condução, afinal aumentaram 20 centavos da passagem. Vai da estação Pinheiros até a estação República e depois até a Sé. Vocês sabem que ai a coisa piora bastante... Mari se aperta toda para entrar no quinto trem que passou desde que chegou no metrô Sé para finalmente conseguir chegar na Paraíso (que de paraíso só tem o nome) e pegar a aula começando.
Ela mora com os pais num bairro de classe média da cidade de São Paulo, tem uma irmã que ainda está no ensino médio. Mari teve que pagar um ano de cursinho para conseguir a tão sonhada bolsa na faculdade, já que o salário de seu pai só paga a escola particular da irmã (uma vez que eles não encontram uma escola pública realmente boa com professores bem remunerados). As vezes ela sai de casa só com o dinheiro da passagem, porque não está sobrando. A carteirinha do Sus anda dentro da carteira mesmo sabendo que quando precisou de exame teve que esperar alguns meses por ele. Sorte que não era nada demais.
Estuda das 19h ás 22h30, pega outro ônibus da facul para o metrô já que é muito perigoso andar na cidade a noite. R$13,20 de condução para um dia comum.
No fim do dia Mari chega cansada e ainda tem que ver propagandas dizendo que o país está melhorando. Para ela, é tudo uma grande piada.

Pode ser que você esteja melhor que a Mari. Pode ser que esteja pior.
A questão é que a falta de saúde, educação, cultura e transporte gratuitos afeta a todos, afeta aquele que depende disso e aquele que tem sua rotina alterada pelo transito excessivo, as filas imensas, a espera sem fim por atendimento nos hospitais públicos e privados, os tantos impostos cobrados sem retorno para a população.
E é por isso que não são só 20 centavos...

"Abstrairei os ataques da propaganda e os valores egoistas que eles vem para pregar. A mentira secular de trabalhar para viver e a rotina angustiante de viver pra trabalhar... É fato sabido que o luxo só existe as custas de muita miséria, que o bem estar social é privilégio de poucos e se pratica uma lavagem cerebral disfarçada com o nome de entretenimento. Mas mesmo diante da maior das atrocidades não experimentaremos sentimentos como o ódio e o desprezo. Ao invés disso nossos corações transbordarão amor e compaixão."
Magah

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